Quero ser atuante na luta antirracista e agora?
Se você clicou neste link é porque já percebeu o impacto que o racismo tem na sua vida e/ou na vida de seus pares. É uma percepção difícil de ser construída, pois, vivemos num país racista e que ainda baseia-se no mito da democracia racial e da miscigenação, logo, não admite o racismo que cerca a construção de sua história.
Para alinharmos, vamos ao dicionário: “antirracista significa pessoa que tem atitudes contrárias ao racismo”, segundo dicio.com
Essa linha de desconstrução e descolonização do pensamento não é fácil. Sair de ciclo vicioso e tóxico que fomos ensinados a encarar com naturalidade pode ser visto como assustador ou encorajador.
A partir do momento que entendemos as estruturas do sistema racista, percebemos que o racismo se mostra em diferentes faces para pessoas negras e que pessoa brancas, independentemente da intenção, estruturam e compactuam com o racismo.
E como mudar o sistema?
Se existisse uma fórmula pronta para modificarmos as estruturas do racismo na sociedade seria um sonho. Mas, enquanto mulher negra, posso falar do que acredito a partir das minhas vivências. E espero, realmente, que sirva pra você.
Pessoas brancas têm um papel fundamental na luta antirracista
São em seus círculos de relacionamento que os comportamentos e discursos racistas estão sendo reproduzidos e precisam ser combatidos.
A maioria das pessoas acredita que somente pessoas negras possam discutir sobre racismo e se manifestarem a respeito do processo estrutural que atinge a sociedade. Mas, na realidade, a partir do momento em que somos agentes opressores e oprimidos dentro do mesmo sistema, todos têm as cartas da mudança.
“Ah, mas não é meu lugar de fala”
É simples. Você somente pode falar com propriedade sobre o que viveu, então, uma pessoa branca não pode falar sobre como são as consequências e as dores do racismo, pois não é uma realidade da sua vida. Entretanto, uma pessoa branca pode dizer sobre o racismo que exerce e como o racismo a privilegia em relação à uma pessoa negra. Percebe a diferença?
Agora, entendendo todos os cenários e atuações, você decide que quer ser atuante na luta antirracista. Embora seja obrigação, estamos longe da sociedade entender isso, então, quero te ajudar com dicas.
1) Pessoas negras não são iguais, assim como, pessoas brancas não são
O estereótipo que cerca o corpo negro é construído em representações que nos colocam em caixinhas. Por isso, começam a ser reproduzidos discursos racistas — que não são vistos como tal, pois já são representações sociais como, por exemplo, de que todo negro junto é parente, que sabe sambar, que curte funk, que mora na favela e que teve uma vida dura para conseguir sobreviver. E, não. As pessoas negras são diferentes, têm gostos diferentes e viveram realidades diferentes. Por isso, é importante que você se dê conta que discursos de senso comum também fortalecem as estruturas do racismo.
2) Não é porque pessoas negras são negras que elas vão entender TUDO sobre racismo e cultura negra
Além disso, que tenhamos que estar dispostos a explicar e ensinar sobre como é a vida do negro — ser homem negro, ser mulher negra e afins. Nós não somos o wikinegro pra assuntos que vocês desconhecem, pra isso, existe o Google. E isso, não quer dizer que não podemos falar sobre o assunto, a diferença é que não temos a obrigação. Então, cuidado.
3) O racismo não é culpa do negro
É papel de todos abordarem o tema, principalmente, pessoas brancas. Não deixem que discursos racistas sejam reproduzidos ao seu redor, não deixem que piadas sejam naturalizadas e não desistam, porque pessoas não negras têm poder e influência onde nós ainda não conseguimos entrar, ou seja, grupos e núcleos familiares de pessoas não-negras. Portanto, é seu papel descontruir essas falas.
4) A abolição da escravatura foi uma falácia
Eu sei, com certeza, você já pensou ou pensa assim, porque somos ensinados a encarar a nossa história — escravizar índios e negros — com naturalidade. Aprendemos que a Princesa Isabel libertou os escravizados, pois teve compaixão e que, após isso, tudo ficou bem. Entretanto, a realidade foi bem diferente. Os negros foram escravizados e lutaram incansavelmente por sua liberdade. O abolicionismo já estava difundido no mundo, e o Brasil foi um dos últimos países a conceder a liberdade aos escravizados, e só a fez pela pressão da política externa à época [e poderíamos discorrer muito mais sobre estes porquês]. Por isso, nós não podemos dizer que negros e brancos têm oportunidades iguais, pois a história das pessoas negras/indígenas e brancas não foram iguais neste país.
5) Você precisa entender que as cotas são uma reparação histórica
A política de ações afirmativas foi criada para dar acesso e equidade a quem não teve oportunidades e condições iguais na sociedade. Mas, apesar da história mostrar as diferenças raciais que cercam o Brasil, há pessoas que acreditam que é justo o oferecimento de cotas sociais, contudo, não de cotas raciais — eu já fui essa pessoa, então, dá tempo de mudar. Porém, vamos pensar: não é nada justo ser maioria numérica num país, que ainda destina os ditos subempregos para população negra, que tem periferias e favelas formadas, em sua maioria, por negros, que não dá condições de ensino fundamental e médio para que não ocorra evasão escolar devido ao racismo e a estrutura social que estão impostos.
Vocês acreditam que um país que vive essa realidade dá condições de equidade a negros, brancos e índigenas?
Então, reflita se as cotas não são necessárias.
Poderia listar inúmeras dicas, mas acredito que estas servirão pra você pensar em como se desconstruir e atuar nesta luta. Pois, precisamos de você.
Não esquece de bater palmas no texto e compartilhar com seus amigos e amigas :)
Originally published at medium.com on January 20, 2019.