Permita-se cair.
Todos os dias escuto uma mulher diferente falando o quanto é árduo permanecer em pé, mesmo quando o mundo está desabando ao redor, para não demonstrar fraqueza. É uma autocobrança e exigência tão persistente que não nos permitimos cair. Já parou pra pensar nisso?
Mas, sim, há dias que precisamos desabar e cair para levantar. É importante que sejam naturais, pois são parte integral do processo de autoconhecimento que desenvolvemos todos os dias para sobreviver num mundo tão nocivo.
Demorei muito tempo pra compreender que precisava sentir esses dias e foi somente com a terapia que eles se tornaram permissivos.
Eu sei, é difícil nos permitimos, porque vivemos numa sociedade que nos impede de termos liberdade sobre nossos corpos e mentes, que imprime perfeição em todos os aspectos de nossas vidas, e quando mostramos fragilidade, escutamos que é um ato “típico da mulher”. Essa representação de super mulher é tão onipresente, que repassamos o papel para outras mulheres também, pois é necessário demonstrar força — “não te abala”, “seja forte”. Mas, cá entre nós, isso é perverso.
Aprendemos a resistir e a lutar contra opressões diárias — mesmo que essas atitudes não sejam conscientes, porque até quando colocamos na caixinha do inconsciente, é uma forma de defesa. Sabe por quê? Porque cansamos. E quantas vezes nos permitimos dizer: “cansei”?
O que eu quero te dizer hoje é: permita-se cair. Têm dias que podemos e devemos sentir o cansaço, pois não somos de ferro. Somos humanas, de carne e osso, com sentimentos bons e ruins, e tudo bem, nós somos assim.
Quando os dias chegam, eu penso e tento me permitir que todas as dores e incertezas sejam latentes, porque eu também sou essa Luana e, tudo bem.
Têm dias que eu gostaria de levantar, olhar no espelho e dizer: porra, que mulher incrível, forte e combativa. Mas, eu não consigo.
Têm dias que são cansativos e exaustivos para provar, pra mim, que posso ser quem eu quiser. E, entenda, não é que eu não saiba, mas têm dias que não há o que eu possa dizer, eu não vou conseguir me encontrar nessa imensidão nebulosa.
Têm dias que dá vontade de chorar por tanta desgraça que acontece nesse mundo. Mas, existe uma voz, bem no fundo, que diz: calma, vai dar tudo certo.
Têm dias que falar sobre questões raciais incomoda, é doloroso, me desconforta e dá vontade de sair correndo pela falta de perspectiva de mudança.
Têm dias que duvido intensamente da minha capacidade, porque o racismo é tão estrutural e danoso que atinge cada parte do meu corpo.
Nestes dias, eu quero me permitir cair e espero que você se permita, pois têm dias que devemos e podemos, sim.